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ricmvger
28th October 2010, 14:05
Pandemia global ou “tradição” familiar?

Na era da globalização, da facilidade de acesso ao consumo, dos excessos, da publicidade enganosa e incisiva, somos quase forçados a comer todo o tipo de porcarias que em nada contribuem para uma alimentação saudável. Em conjunto com uma vida sedentária, muitas vezes caracterizada por horários pouco flexíveis, trabalho em ambiente de escritório, frente a um ecrã de computador, muitas horas de sofá frente à televisão e pouca apetência por exercício físico regular, o excesso de peso e a obesidade parecem quase destinos inevitáveis.

Somando a isto alguma carga genética desfavorável, herança directa dos nossos antepassados, eventuais disfunções metabólicas, assim como comportamentos e hábitos adquiridos ao longo da vida, está estabelecida a receita para a “Pandemia Global”.


- “Come filho... Estás muito gordinho! Mas come mais um bocadinho!”

Como tantos outros Portugueses, fui educado nesta dualidade de critérios que, por um lado estimula o apetite, com belíssimas iguarias tão característicos da nossa cultura Latina, por outro relembra-nos, ainda que vagamente, que ser gordo traduz-se em reais limitações físicas e psicológicas que podem, com o tempo, diminuir a qualidade de vida ou pelo menos levar-nos a pensar nisso.
O excesso de peso é um problema transversal à sociedade que acarreta custos pessoais e sociais elevados. Infelizmente, nem sempre vemos ou queremos ver as consequências de não tomar em tempo oportuno as medidas certas que nos possam ajudar a resolver problemas.
Todas as desculpas servem para justificar as fragilidades humanas. E se é difícil de ultrapassar ou vencer as dificuldades, o primeiro passo é reconhecer-mos, sem complexos, que sozinhos não vamos lá, procurando então a melhor ajuda e aconselhamento possíveis.

Qual a razão de um artigo sobre este tema numa publicação de mergulho?

Usando uma expressão adaptada de um conhecido político e engenheiro Português, para mim o mergulho “é uma paixão”! Sinto prazer na prática da modalidade e em partilhar, com quem queira ler, as minhas vivências e emoções. Se puder servir de exemplo ou ajudar quem precise a tomar uma decisão de alteração de vida e hábitos antigos, pois tanto melhor!
Sei, porque observo regularmente, que muitos mergulhadores obesos passam, em maior ou menor grau, pelas mesmas dificuldades que eu passei, em coisas tão simples como a escolha de protecção térmica e equipamentos adequados, facilidade de equipar e desequipar, descer ou subir das embarcações e até na quantidade de lastro necessário para realizar as imersões!
Para já não falarmos em limitações fisiológicas impostas pelo excesso de peso, ao nível da capacidade de resistência, capacidade de reacção física a situações de stress, fisiologia da descompressão...

Não pretendo agora ser como um daqueles “eis fumadores” que se tornaram radicais, olhando de lado para quem persiste no fumo! Cada um saberá o que é melhor para si e tomará as suas próprias decisões. Até porque existem diferentes graus de obesidade e as limitações impostas variam muito de pessoa para pessoa. Mesmo “gordo”, eu não deixei de ser bastante activo e praticar mergulho, sempre em segurança, conforto e sobretudo com imenso prazer. Para aqueles que enfrentem problema semelhante, não deixem de ser felizes, porque afinal é disso que se trata.


Roma e Pavia não se fizeram num dia...

Não vou entrar em grandes detalhes sobre a minha história de vida. Vou apenas referir que embora tenha tido sempre tendência para aumentar fácil e rapidamente de peso, também eu fui “magro” num passado “recente”. Combatendo essa tendência com algumas fases de muito desporto e moderação alimentar, tive períodos em que consegui ter um índice de massa corporal (IMC) adequado à minha idade e altura. Sempre que tentei, consegui perder peso... Para lá do “sacrifício” que as dietas e exercício implicam, a minha principal dificuldade foi sempre a “manutenção”.

Com este “background”, cheguei aos 38 anos com um peso manifestamente excessivo e
sobretudo incómodo, dentro de padrões que se podem classificar como “obesidade mórbida”!

A morte da minha mãe em 2009, aos 62 anos de idade, fez-me pensar na vida e tomar uma decisão: mais que perder peso precisava de encontrar uma solução definitiva para um problema real!
Felizmente, apesar dos excessos e erros ao longo de anos, ainda não padecia e creio não
padecer de nenhuma doença crónica associada ao estado de obesidade. Decidi não ficar à espera de ter problemas de saúde para procurar soluções. Relembro que nunca á tarde para procurar ajuda, mas nestes casos não devemos deixar para amanhã o que se pode fazer hoje.


Soluções cirúrgicas...

Com bons e maus exemplos disponíveis entre amigos e conhecidos e também no vasto
repositório de “boa e má” informação que é a internet, iniciei as minhas pesquisas no âmbito das soluções propostas pela cirurgia bariátrica. Não fui o primeiro mergulhador a fazê-lo.
Simplesmente outros preferiram, com todo o direito, não falar disso.
De forma leiga e sucinta, a cirurgia bariátrica consiste na realização de procedimentos
cirúrgicos no estômago e/ou intestinos, que promovem a redução efectiva da capacidade de ingestão e alterações metabólicas. Tendo como objectivos a perda de peso e posterior manutenção, os tipos mais comuns de intervenção são a “banda gástrica”, a “gastrectomia em sleeve” e o “bypass gástrico”.

Na “banda gástrica” o volume do estômago é reajustado a uma pequena bolsa, com o
implante de uma banda ajustável em torno do músculo gástrico.

Na “gastrectomia em sleeve”, a parte esquerda do estômago é removida, ficando o órgão com reduzida capacidade de ingestão/distensão. Paralelamente, a parte removida do estômago, é responsável pela secreção de hormonas relacionadas com a estimulação do apetite e consequente obsidade.

No “bypass gástrico”, o estômago é reduzido a um pequeno volume através de corte efectivo, que limita fortemente a capacidade de ingestão, ao mesmo tempo que uma porção proximal de intestino delgado é “transposta” através de “bypass”, o que interfere com a normal digestão, ajudando a reduzir a absorção de nutrientes e calorias. Esta redução será maior ou menor em função do comprimento de intestino transposto.

Cada caso deve ser analisado por especialistas integrados numa equipa multidisciplinar,
mediante consulta e meios de diagnóstico complementares, discutidas eventuais implicações, riscos e contra-indicações, sendo a solução proposta ao paciente, adequada à sua condição.


Não há milagres nem refeições grátis...

Se bem que uma cirurgia bariátrica aumente e muito o sucesso da perda de peso, tomar a decisão de a fazer, implica também um compromisso com nós mesmos, de alteração dos hábitos e comportamentos enraizados, procurando uma alimentação saudável e equilibrada, tomada a intervalos regulares que evitem picos glicémicos, a par do “investimento” pessoal numa vida activa e até desportiva.

Se o excesso de peso, condiciona a mobilidade e sobretudo a vontade de praticar exercício porque aumenta a carga sobre as articulações e o esforço cárdio-respiratório, a cirurgia bariátrica pode constituir a ajuda necessária e efectiva para o arranque na perda de peso e sobretudo na manutenção, uma vez atingido o peso considerado ideal.

Antes de tomar decisões definitivas, pelos riscos associados a qualquer procedimento cirúrgico e custos envolvidos, caso não se beneficie de qualquer tipo de apoio financeiro, podem e devem ser ponderadas opções menos intrusivas. Relembrando que “dietas iô-iô”, fome e medicamentos “milagrosos” não são aconselhados e acarretam riscos, quando o excesso de peso não é muito elevado, o simples acompanhamento de um nutricionista, algumas idas ao ginásio ou caminhadas e muita força de vontade, podem para muitas pessoas ser suficientes.


A minha experiência pós-cirúrgica...

Foi encorajadora com uma perda de peso visível na balança e sobretudo no tamanho das
peças de roupa!
Ultrapassado o período de 3 semanas pós-cirurgia, com dieta líquida em que gradualmente se reintroduzem água, chás, leite, iogurtes e sopas, passa-se a alimentos sólidos, deixando para o fim os mais fibrosos. Saladas cruas, cefalópodes e pão caseiro, estão entre o tipo de alimentos que mais tardam a fazer parte da dieta, mas no espaço de mês e meio a três meses, estamos novamente a comer de tudo, desta feita com moderação e inteligência. As alterações fisiológicas efectivas, induzidas pela operação, condicionam a ingestão, forçando a mastigar melhor os alimentos, ensinando-nos a “comer bem”, em quantidades adequadas e intervalos regulares, geralmente não superiores a três horas. Num Mundo ideal, o que todos devíamos fazer diariamente, evitando dessa forma o aumento de peso!

Hoje, após seis meses sem grandes sacrifícios, tenho menos 45 Kgs, auto-estima reforçada e sobretudo uma qualidade de vida muito aumentada! No meu caso a perda de peso foi até mais célere, porque com base nas indicações médicas, assim que me senti bem fisicamente, aumentei gradualmente a carga de treino, já que exercício sempre gostei de fazer, mas estava demasiado pesado para o conseguir sem me sentir demasiado cansado. Esta atitude teve as suas vantagens, evitando a necessidade de cirurgia estética para remoção de eventuais pregas de pele, muitas vezes associadas à perda de peso rápida e acentuada.

Actualmente corro regularmente 8 a 12 quilómetros, nado longas distâncias em piscina ou no mar e procuro usar menos o carro, andando mais a pé ou de bicicleta.


Quanto ao Mergulho?

Descontando o facto agradável de ter trocado de traje 2 vezes neste período de seis meses, não podia estar mais satisfeito! De tamanhos 3 e 4XL, desci para M ou ML... Foi uma redução enorme!
Descer ou subir nas embarcações mais altas ou escadas mais difíceis, vestir e despir, dobrar-me para calçar barbatanas, clipar stages, nadar por longos períodos contra correntes ou no meio de vagas, é hoje realizado por mim sem grande esforço ou qualquer apreensão.
Sinto-me muito mais preparado para enfrentar e resolver os meus problemas e sobretudo
para ajudar outros mergulhadores que precisem.
Tal como me havia informado antes de tomar a decisão de me submeter à cirurgia, não notei qualquer interferência fisiológica do procedimento no mergulho, realizando todo o tipo de imersões, com ou sem descompressão. Pelo contrário...

Sinto-me muito bem!

Por Ricardo Germano

ricmvger
28th October 2010, 14:07
5171 Bypass Gástrico.